CRUZADAS MODERNAS

17/10/2011 17:49

       Se você pensa que a inquisição acabou, está enganado!

 
  

 
 
 

           Embora não fossem assim denominadas no tempo em que ocorreram, o termo “Cruzada” foi posteriormente atribuído a qualquer um dos movimentos militares de caráter cristão que partiram da Europa Ocidental e cujo objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob o domínio dos cristãos. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos.

          A expressão Cruzadas surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, marcados pelo sinal da cruz bordado em suas roupas.

          De acordo com Michael Baigent e Richard Leigh em seu livro A Inquisição, “além dos benefícios espirituais e morais, o cruzado gozava de muitas outras proteções em sua jornada por este mundo, antes mesmo de passar pelos portões celestes. Podia tomar bens, terras, mulheres e títulos no território que conquistasse...qualquer que fosse seu status em seu país – filho caçula sem terra, por exemplo – podia estabelecer-se como augusto potentado secular, com côrte, harém e uma substancial propriedade territorial”.                                           

         A adesão às cruzadas era, portanto uma forma de “garantir” benefícios espirituais eternos e naturais abundantes. As incursões militares eram apenas uma das maneiras utilizadas pela igreja da época a fim de recrutar adeptos para suas causas. Ela se valia ainda de muitos outros meios para oferecer “caminhos alternativos para o paraíso”. Através do martírio, a auto-mortificação, os rituais, penitências, os sacramentos e indulgências podiam-se “abrir as portas dos céus” aos crentes.

          Infelizmente o que vemos atualmente numa escala muito maior do que gostaríamos é que a prática de uma parte substancial da igreja não mudou, apenas se substituíram alguns termos: o martírio foi substituído por ofertas financeiras sacrificiais; a auto-mortificação, pela obediência cega e irrestrita à alguns líderes, mesmo quando estes não estiverem agindo exatamente de acordo com a Bíblia; os rituais continuam bem atuais, apenas acrescidos de adereços modernos e “souvenires” da fé que podem ser adquiridos nos templos em dias de campanhas especiais.

           Durante as várias cruzadas que ocorreram desde 1098 vemos muitas similaridades com o que podemos denominar “Cruzadas Evangélicas dos Tempos Modernos”. Tanto nas antigas, quanto nas atuais não podemos garantir que os resultados espirituais esperados tenham sido alcançados, mas podemos certamente afirmar que os “benefícios” de ser um cruzado são bem visíveis ainda hoje. Assim como no passado, atualmente é possível ver que enquanto para muitos restou apenas a frustração e a tristeza, para outros restaram os títulos de nobreza, o enriquecimento, a fama, as propriedades e a autoridade – ou arrogância e presunção – provenientes disso tudo.

           Naquela época ninguém contestava o fato de que a igreja era descaradamente corrupta. De acordo com Henry Charles Lea, autor de A History of the Inquisition of the Middle Ages, no início do século XIII o papa católico descrevia os sacerdotes da sua igreja como “piores que animais refocilando-se em seu próprio excremento”. Os bispos da época eram vistos como “pescadores de dinheiro e não de almas”.

            Em alguns aspectos é possível compararmos a história da igreja da idade média com a igreja contemporânea. Basta um pequeno esforço de nossas mentes para lembrarmos de escândalos recentes que abalaram o Brasil envolvendo inclusive grande parte dos parlamentares evangélicos. “A bancada Evangélica foi reduzida quase à metade e o escândalo dos sanguessugas foi o maior responsável”, conclui o sociólogo Ricardo Mariano, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), autor de pesquisas sobre a participação política dos evangélicos. “A questão da ética e da moralidade é algo brandido em toda campanha evangélica e esses escândalos pegaram muito mal, principalmente no interior das igrejas”, acrescenta.  A acusação de evasão de divisas para os Estados Unidos contra líderes notórios de uma grande denominação no Brasil, imagens de evangélicos orando agradecidos pela ajuda financeira proveniente de desvios de verbas públicas, ou ainda, os escandalosos apelos por dinheiro em muitos templos religiosos nos levam a concluir que infelizmente a história do século XIII não é muito diferente da dos dias de hoje, e que a afirmação do papa de então, sobre os religiosos da época; “piores que animais refocilando-se em seu próprio excremento”, e “pescadores de dinheiro e não de almas” ainda se aplica (e parece que cada vez mais) ao cenário dito “Cristão” de nossos dias.

 

By  C. R. Zago